O texto que faz lembrar o gosto das nossas raízes!

O som vindo do lado de fora da casa me acorda. Imediatamente, sinto um cheiro forte e gostoso que me convida a levantar da cama. Vou à cozinha e vejo o rosto de minha mãe sorrindo e me desejando bom dia. O tal cheiro se transforma em sabor e acalento para o meu coração no momento em que ela me traz uma xícara de café recém-passado.
“Seu bisavô estava bravo agora cedo porque viu uma foto sua e pensou que fosse sua bisavó. Começou a bater a bengala, já que não consegue mais bater o pé!”
— Mas ele estava bravo? Não estou entendendo.
— Ele sente saudades dela. Você é muito nova para entender, mas às vezes a gente fica com raiva dos rumos que o destino nos leva e das perdas que a gente acaba tendo.
— Por que uma simples foto minha, que sempre esteve ali, causou isso?
— Não sei, Joana! Mas você é muito parecida com ela.
— Parecida como? Me conta! Vocês não falam muito dela.
“Sua bisavó veio da Itália com 14 anos, sozinha, prometida em casamento para um homem que ela nunca tinha visto na vida. Quando ela chegou ao porto, no Rio, conheceu seu bisavô e decidiu que se casaria com ele. A família dela, sem saber o que fazer, aceitou, mas disse que seu bisavô tinha que provar como ia sustentá-la.
Naquela época, ele era muito pobre, trabalhava no porto e tinha um primo aqui em Minas que o tinha chamado para trabalhar na torrefação de café. De início, ele não queria vir, mas o salário era suficiente para conseguir a mão de sua bisavó em casamento. Então, ele veio.
— E o que isso tem a ver comigo?
— Calma, eu vou chegar lá!
Quando seu bisavô chegou em Minas, ele se encantou com os mares de morros e com o clima, ficou apaixonado pelos grãos de café. Trabalhou muito, coitado, mas ele realmente amava isso aqui e, ainda mais, ter sua bisavó ao seu lado.
Ela também era muito trabalhadora. Estava sempre atenta se ele precisava de algo. Sabia comercializar e moer o café. Ela também era responsável por tornar a vida na fazenda mais alegre. Na roça, se o tempo vai mal, o nosso bolso também vai mal. A gente cria uma relação diferente com a natureza e com a oração.
Você lembra sua bisavó porque também tem coragem de explorar o desconhecido, mas, como ela, você sempre volta para onde o melhor café do mundo cresce. Sua casa, sua família, sua xícara bem quente recém-passada. É para isso que o seu coração desperta. A palavra que definia sua bisavó era coragem, a palavra que te define é coragem e, se tem uma coisa que o café nos dá, é coragem!
O café está no seu sangue. A história do café é a sua história.